Arte Fenícia de Cinzia Caiazzo. Público Comunicação Social. Porto, 2006, 383 págs.
A memória dos fenicios perde-se no tempo. Deste povo de navegantes, que ligou todo o mundo conhecido à época, chegando à Península Ibérica, para lá dos confins do Mediterrâneo, temos normalmente uma imagem vaga, e muitas vezes errada. As mais impressionantes imagens que nos surgem quando pensamos nos fenícios são as de um libelo romano, que nos chega por Diodoro Siculo, segundo o qual, em Cartago – a mais próspera e famosa das colónias fenicias, se celebravam os terríveis ritos em honra de Baal, nos quais se queimavam bebés vivos para assegurar a protecção do Deus. Lembramo-nos depois do alfabeto, que teriam inventado, embora também essa ideia se encontre actualmente em revisão, e da púrpura, a tinta extraída de conchas, que comercializavam, e a partir da qual os gregos lhes deram o nome.
Mas dificilmente temos uma imagem coesa da arte fenícia, como aliás de toda a sua civilização. Para isto contribui o facto de conhecermos os fenicios sobretudo através dos vestigios deixados nas suas colónias e entrepostos, mas também, e sobretudo, pelo facto da arte fenicia ter sido como que um cadinho no qual se fundiram as influências de todos os povos com os quais contactaram. De facto, esta civilização pós em contacto todas as grandes culturas, e a sua arte apropria-se de caracteristicas da arte egípcia, assiria e grega, quer nos próprios motivos, quer na selecção e composição das cores. Do mesmo modo, as oficinas fenícias usam livremente as criações de outras oficinas, quer usando os mesmos materiais, quer transpondo-os para novos usos e contextos.
Não se trata, porém, de simples reprodução: os motivos são retirados do seu contexto original e reinventados. As suas conotações especificas são postas ao serviço de mensagens completamente autónomas. Nos marfins encontrados no Egipto, na Assíria, em Chipre, na Sardenha ou em Malta, bem como nas taças metálicas louvadas por Homero na Ilíada, heróis gregos como Héracles convivem com atributos faraónicos num esforço comum de glorificação de personagens fenicias. Nenhuma outra cultura antiga foi tão eclética. A esta criatividade, porém, alia-se um conservadorismo patente na duração de certas fórmulas e motivos, inalterados durante séculos, como o caso das máscaras e prótomos em terracota, produzidos sem interrupção durante toda a idade do Bronze Tardio.
Este volume traça os complexos e os – ainda – misteriosos caminhos da arte e arquitectura fenícias, a sua evolução em locais tão distantes como o Algarve e o Egipto, locais onde este povo mercantil difundiu a sua cultura e semeou outras, numa expansão que apenas os romanos haveriam de igualar.
10,00 €
A memória dos fenicios perde-se no tempo. Deste povo de navegantes, que ligou todo o mundo conhecido à época, chegando à Península Ibérica, para lá dos confins do Mediterrâneo, temos normalmente uma imagem vaga, e muitas vezes errada. As mais impressionantes imagens que nos surgem quando pensamos nos fenícios são as de um libelo romano, que nos chega por Diodoro Siculo, segundo o qual, em Cartago – a mais próspera e famosa das colónias fenicias, se celebravam os terríveis ritos em honra de Baal, nos quais se queimavam bebés vivos para assegurar a protecção do Deus. Lembramo-nos depois do alfabeto, que teriam inventado, embora também essa ideia se encontre actualmente em revisão, e da púrpura, a tinta extraída de conchas, que comercializavam, e a partir da qual os gregos lhes deram o nome.
Mas dificilmente temos uma imagem coesa da arte fenícia, como aliás de toda a sua civilização. Para isto contribui o facto de conhecermos os fenicios sobretudo através dos vestigios deixados nas suas colónias e entrepostos, mas também, e sobretudo, pelo facto da arte fenicia ter sido como que um cadinho no qual se fundiram as influências de todos os povos com os quais contactaram. De facto, esta civilização pós em contacto todas as grandes culturas, e a sua arte apropria-se de caracteristicas da arte egípcia, assiria e grega, quer nos próprios motivos, quer na selecção e composição das cores. Do mesmo modo, as oficinas fenícias usam livremente as criações de outras oficinas, quer usando os mesmos materiais, quer transpondo-os para novos usos e contextos.
Não se trata, porém, de simples reprodução: os motivos são retirados do seu contexto original e reinventados. As suas conotações especificas são postas ao serviço de mensagens completamente autónomas. Nos marfins encontrados no Egipto, na Assíria, em Chipre, na Sardenha ou em Malta, bem como nas taças metálicas louvadas por Homero na Ilíada, heróis gregos como Héracles convivem com atributos faraónicos num esforço comum de glorificação de personagens fenicias. Nenhuma outra cultura antiga foi tão eclética. A esta criatividade, porém, alia-se um conservadorismo patente na duração de certas fórmulas e motivos, inalterados durante séculos, como o caso das máscaras e prótomos em terracota, produzidos sem interrupção durante toda a idade do Bronze Tardio.
Este volume traça os complexos e os – ainda – misteriosos caminhos da arte e arquitectura fenícias, a sua evolução em locais tão distantes como o Algarve e o Egipto, locais onde este povo mercantil difundiu a sua cultura e semeou outras, numa expansão que apenas os romanos haveriam de igualar.
Arte Fenícia de Cinzia Caiazzo. Público Comunicação Social. Porto, 2006, 383 págs.
A memória dos fenicios perde-se no tempo. Deste povo de navegantes, que ligou todo o mundo conhecido à época, chegando à Península Ibérica, para lá dos confins do Mediterrâneo, temos normalmente uma imagem vaga, e muitas vezes errada. As mais impressionantes imagens que nos surgem quando pensamos nos fenícios são as de um libelo romano, que nos chega por Diodoro Siculo, segundo o qual, em Cartago – a mais próspera e famosa das colónias fenicias, se celebravam os terríveis ritos em honra de Baal, nos quais se queimavam bebés vivos para assegurar a protecção do Deus. Lembramo-nos depois do alfabeto, que teriam inventado, embora também essa ideia se encontre actualmente em revisão, e da púrpura, a tinta extraída de conchas, que comercializavam, e a partir da qual os gregos lhes deram o nome.
Mas dificilmente temos uma imagem coesa da arte fenícia, como aliás de toda a sua civilização. Para isto contribui o facto de conhecermos os fenicios sobretudo através dos vestigios deixados nas suas colónias e entrepostos, mas também, e sobretudo, pelo facto da arte fenicia ter sido como que um cadinho no qual se fundiram as influências de todos os povos com os quais contactaram. De facto, esta civilização pós em contacto todas as grandes culturas, e a sua arte apropria-se de caracteristicas da arte egípcia, assiria e grega, quer nos próprios motivos, quer na selecção e composição das cores. Do mesmo modo, as oficinas fenícias usam livremente as criações de outras oficinas, quer usando os mesmos materiais, quer transpondo-os para novos usos e contextos.
Não se trata, porém, de simples reprodução: os motivos são retirados do seu contexto original e reinventados. As suas conotações especificas são postas ao serviço de mensagens completamente autónomas. Nos marfins encontrados no Egipto, na Assíria, em Chipre, na Sardenha ou em Malta, bem como nas taças metálicas louvadas por Homero na Ilíada, heróis gregos como Héracles convivem com atributos faraónicos num esforço comum de glorificação de personagens fenicias. Nenhuma outra cultura antiga foi tão eclética. A esta criatividade, porém, alia-se um conservadorismo patente na duração de certas fórmulas e motivos, inalterados durante séculos, como o caso das máscaras e prótomos em terracota, produzidos sem interrupção durante toda a idade do Bronze Tardio.
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