Arte Egípcia de Cinzia Caiazzo. Público Comunicação Social. Porto, 2006, 359 págs. Mole.
Sobre o famoso sofá de Sigmund Freud, havia uma gravura do templo de Ramsés em Abu Simbel. Na sua escrivaninha, acotovelava-se uma pequena multidão de deuses e deusas da terra das pirâmides. “Adquiri algumas antiguidades egipcias,” confessava, “fazem-me sentir bem, e falam-me de tempos e terras longinquos.” Freud não era o primeiro a sucumbir ao apelo do antigo Egipto: já em 1807, a Inglaterra se rendera completamente que o poeta Robert Southey se queixava: “Tudo tem de ser egipcio […] Até as tabuletas das lojas têm que ser transformadas segundo a moda, pintadas em letras egipcias.”
Este fervor decorativo ressurgiria em vagas durante os séculos seguintes, com a enciclopédia Description de l’Égypte das campanhas de Napoleão, depois com a conveniência das viagens a vapor, com a moda dos relatos de viagem, e sobretudo, com cada tesouro desvendado pela nova ciência da arqueologia, culminando em 1922, com a descoberta do túmulo de Tutankhamon. Até aos nossos dias, as exposições itinerantes do tesouro do jovem faraó se assemelham às tournées de grandes estrelas, com bilheteiras esgotadas e longas filas de espera.
Será tentador tomar esta fama por prova do sucesso dos artesãos egípcios. mas a história contemporânea do fascinio egipcio é o inverso perfeito das suas aspirações. A posteridade almejada pelos faraós não era mundana mas imortal, e não era de todo dependente da fama terrena, do observador transitório.
Na realidade, não se supunha que os sarcófagos ou as pinturas e relevos que hoje admiramos fossem vistos, outra vez por outrem que não o defunto, que os usaria na sua vida imortal. Uma das palavras egipcias para escultor significava “aquele que mantém vivo”, e era este o fito das estatuetas e das máscaras funerárias: a eternidade.
Uma eternidade que se queria perfeita, jovem e bela os conceitos fundem-se no hieróglifo nfr. Assim, tudo era representado de forma ideal, segundo regras estabelecidas que almejavam a representação mais completa dos aspectos mais característicos do sujeito: se os rostos surgem invariavelmente de perfil, mas com olhos vistos de frente, e os corpos nos parecem sempre torcidos, isto deve-se à tentativa de assegurar a “perfeição” mágica da imagem. O mesmo sucede com a regularidade geométrica, característica da arte egipcia, e a estabilidade das formas ao longo de milénios: não se trata de objectos decorativos, de beleza sujeita a modas passageiras, mas sim de objectos simbólicos, que devem encarnar o que representam, e inscrevê-lo na harmonia eterna do mundo de lá.
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Sobre o famoso sofá de Sigmund Freud, havia uma gravura do templo de Ramsés em Abu Simbel. Na sua escrivaninha, acotovelava-se uma pequena multidão de deuses e deusas da terra das pirâmides. “Adquiri algumas antiguidades egipcias,” confessava, “fazem-me sentir bem, e falam-me de tempos e terras longinquos.” Freud não era o primeiro a sucumbir ao apelo do antigo Egipto: já em 1807, a Inglaterra se rendera completamente que o poeta Robert Southey se queixava: “Tudo tem de ser egipcio […] Até as tabuletas das lojas têm que ser transformadas segundo a moda, pintadas em letras egipcias.”
Este fervor decorativo ressurgiria em vagas durante os séculos seguintes, com a enciclopédia Description de l’Égypte das campanhas de Napoleão, depois com a conveniência das viagens a vapor, com a moda dos relatos de viagem, e sobretudo, com cada tesouro desvendado pela nova ciência da arqueologia, culminando em 1922, com a descoberta do túmulo de Tutankhamon. Até aos nossos dias, as exposições itinerantes do tesouro do jovem faraó se assemelham às tournées de grandes estrelas, com bilheteiras esgotadas e longas filas de espera.
Será tentador tomar esta fama por prova do sucesso dos artesãos egípcios. mas a história contemporânea do fascinio egipcio é o inverso perfeito das suas aspirações. A posteridade almejada pelos faraós não era mundana mas imortal, e não era de todo dependente da fama terrena, do observador transitório.
Na realidade, não se supunha que os sarcófagos ou as pinturas e relevos que hoje admiramos fossem vistos, outra vez por outrem que não o defunto, que os usaria na sua vida imortal. Uma das palavras egipcias para escultor significava “aquele que mantém vivo”, e era este o fito das estatuetas e das máscaras funerárias: a eternidade.
Uma eternidade que se queria perfeita, jovem e bela os conceitos fundem-se no hieróglifo nfr. Assim, tudo era representado de forma ideal, segundo regras estabelecidas que almejavam a representação mais completa dos aspectos mais característicos do sujeito: se os rostos surgem invariavelmente de perfil, mas com olhos vistos de frente, e os corpos nos parecem sempre torcidos, isto deve-se à tentativa de assegurar a “perfeição” mágica da imagem. O mesmo sucede com a regularidade geométrica, característica da arte egipcia, e a estabilidade das formas ao longo de milénios: não se trata de objectos decorativos, de beleza sujeita a modas passageiras, mas sim de objectos simbólicos, que devem encarnar o que representam, e inscrevê-lo na harmonia eterna do mundo de lá.
Arte Egípcia de Cinzia Caiazzo. Público Comunicação Social. Porto, 2006, 359 págs. Mole.
Sobre o famoso sofá de Sigmund Freud, havia uma gravura do templo de Ramsés em Abu Simbel. Na sua escrivaninha, acotovelava-se uma pequena multidão de deuses e deusas da terra das pirâmides. “Adquiri algumas antiguidades egipcias,” confessava, “fazem-me sentir bem, e falam-me de tempos e terras longinquos.” Freud não era o primeiro a sucumbir ao apelo do antigo Egipto: já em 1807, a Inglaterra se rendera completamente que o poeta Robert Southey se queixava: “Tudo tem de ser egipcio […] Até as tabuletas das lojas têm que ser transformadas segundo a moda, pintadas em letras egipcias.”
Este fervor decorativo ressurgiria em vagas durante os séculos seguintes, com a enciclopédia Description de l’Égypte das campanhas de Napoleão, depois com a conveniência das viagens a vapor, com a moda dos relatos de viagem, e sobretudo, com cada tesouro desvendado pela nova ciência da arqueologia, culminando em 1922, com a descoberta do túmulo de Tutankhamon. Até aos nossos dias, as exposições itinerantes do tesouro do jovem faraó se assemelham às tournées de grandes estrelas, com bilheteiras esgotadas e longas filas de espera.
Será tentador tomar esta fama por prova do sucesso dos artesãos egípcios. mas a história contemporânea do fascinio egipcio é o inverso perfeito das suas aspirações. A posteridade almejada pelos faraós não era mundana mas imortal, e não era de todo dependente da fama terrena, do observador transitório.
Na realidade, não se supunha que os sarcófagos ou as pinturas e relevos que hoje admiramos fossem vistos, outra vez por outrem que não o defunto, que os usaria na sua vida imortal. Uma das palavras egipcias para escultor significava “aquele que mantém vivo”, e era este o fito das estatuetas e das máscaras funerárias: a eternidade.
Uma eternidade que se queria perfeita, jovem e bela os conceitos fundem-se no hieróglifo nfr. Assim, tudo era representado de forma ideal, segundo regras estabelecidas que almejavam a representação mais completa dos aspectos mais característicos do sujeito: se os rostos surgem invariavelmente de perfil, mas com olhos vistos de frente, e os corpos nos parecem sempre torcidos, isto deve-se à tentativa de assegurar a “perfeição” mágica da imagem. O mesmo sucede com a regularidade geométrica, característica da arte egipcia, e a estabilidade das formas ao longo de milénios: não se trata de objectos decorativos, de beleza sujeita a modas passageiras, mas sim de objectos simbólicos, que devem encarnar o que representam, e inscrevê-lo na harmonia eterna do mundo de lá.
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