Unibolso, 116 Balzac, o demiurgo, o grande criador, o mágico capaz de animar figuras e figuras, em que palpita, intensamente, toda a tragédia humana, Balzac, um dos maiores romancistas de todos os tempos, atingiu, com «Pierrette», um dos pontos mais altos da sua obra. E, diga-se de passagem, trata-se de um dos seus livros mais trabalhados: certas páginas de «Pierrette foram revistas pelo autor vinte-e-nove vezes! Inicialmente, destinava-se a constituir uma «deliciosa historiazinha, uma dessas deliciosas flores de melancolia que nunca falham o sucesso, como escreveria o próprio Balzac; mas, a <deliciosa historiazinha» revelou-se uma novela violenta e cruel. Pierrette é uma orf? recolhida em casa de estranhos, condicionada pelo mundo mediocre de uma pequena cidade da província francesa do século passado, perseguida pelo carácter mesquinho daqueles mesmos que a protegem, o casal Rogron. E o seu amor por Jacques Brigant, um humilde carpinteiro, sofre as consequências de tudo isso. Extraordinário pintor de almas, Balzac, no entanto, não quis deixar de erguer a comédia da pequena terra de província e o drama da rapariguinha vítima da ferocidade dos outros quase se esbate, diante da miséria da cidade e das sórdidas lutas políticas, que até dela se aproveitam. O equilíbrio técnico e a riqueza situam «Pierrette» ao nível das autênticas obras-primas. Um romance belo, poético, verdadeiro e pungente, que não esqueceremos.