Alan Freeland
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«Os Maias eram uma antiga família da Beira, sempre pouco nume rosa, sem linhas colaterais, sem parentelas e agora reduzida a dois varões, o senhor da casa, Afonso da Maia, um velho já, quase um antepassado, mais idoso que o século, e seu neto Carlos que estudava medicina em Coimbra.» É deste modo que, nas primeiras páginas de Os Maias, é escamoteada uma informação essencial, começando o leitor logo aqui a ser posto à prova, no seu papel de detective, pelo autor.
Este ensaio parte de uma análise da discrepância, muito vincada em Os Maias, entre cronologia e ordem narrativa. Mostra como o processo narrativo de Eça acaba por revelar uma estrutura de histórias encaixadas, na qual está implícita toda uma temática da desordem: as histórias, os nomes, as identidades, são enganadores e indiciam, sob a ordem aparente, uma profunda confusão social. Para Eça, as fontes dessa confusão encontram-se, nesta sociedade, no passado e na corrupção do sistema semiológico. De facto, o próprio autor coloca-nos num sistema de sinais em que se não pode confiar, cuja leitura nos ajuda a melhor compreender a visão queirosiana da mudança social no Portugal do século XIX. A manipulação das expectativas do leitor põe por fim em causa a fé contemporânea, tanto de positivistas como de republicanos, na evolução do «organismo social», na Ordem e no Progresso.