Século XX: Das Vanguardas à Arte Global

A arte acaba aqui. Segundo o filósofo e crítico de arte Arthur Danto, o modernismo, bem como a própria história da arte, foram extintos no momento em que Andy Warhol criou a instalação de caixas de esfregões Brillo. As cópias fiéis, em serigrafia sobre madeira, de embalagens comerciais, que Warhol repetiria nas latas de sopa de tomate Campbell, são, na prática, indistinguiveis das próprias embalagens. Se o modernismo foi a arte pela arte, empenhado na exploração dos métodos e premissas da arte, valorizando na pintura, a cor, a pincelada, os volumes e, na escultura a plasticidade, o toque e o espaço, a obra de Warhol era o seu oposto. Aqui acabava a ideia de que a arte era, pela sua própria essência, algo de diferente e discernivel da não-arte.

Se o modernismo se libertara da representação, a arte contemporânea libertou-se de tudo o resto: a beleza é explicitamente negada por muitos dos movimentos da pós-arte; dissolve-se a distinção entre objecto e criação, entre artista e observador, entre público e privado, como quando Gilbert & George se declaram obras de arte vivas; extingue-se, enfim, a diferença entre arte e vida. Ao artista desconfiado de um mundo que vende as suas obras, ao artista portador de uma pureza, de uma verdade única e última, a segunda metade do século XX contrapõe artistas que reproduzem o próprio comércio, como Warhol, nas embalagens, mas também nas suas polaroids, repetidas, de Marilyn ou de Elvis, icones de ícones, outros que esvaziam o significado da sua interioridade, como Koons quando transforma o seu namoro numa porcelana kitsch, cheia de dourados e borboletas; outros, ainda, fazem obras “invisíveis”, intervenções em locais isolados, negando a própria relação com o mundo.

A arte acabou, e porque acabou, está em todo o lado: land art, body art, performance, a arte nos gestos, nos processos, no lixo. Ou não está em lado nenhum, senão nos próprios conceitos: em 1961, Piero Manzoni vende o seu próprio hálito dentro de balões e assina os corpos dos espectadores declarando-os obras de arte vivas; em 1972, Fred Forrest compra um espaço em branco no Le Monde e convida os leitores a encherem-no com as suas próprias obras de arte. É desta arte contraditória, muitas vezes efémera, outras tantas vezes permanente ou em constante tensão com a sua própria existência, de que este volume se ocupa, bem como da sua, muitas vezes dificil, definição e interpretação.

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A arte acaba aqui. Segundo o filósofo e crítico de arte Arthur Danto, o modernismo, bem como a própria história da arte, foram extintos no momento em que Andy Warhol criou a instalação de caixas de esfregões Brillo. As cópias fiéis, em serigrafia sobre madeira, de embalagens comerciais, que Warhol repetiria nas latas de sopa de tomate Campbell, são, na prática, indistinguiveis das próprias embalagens. Se o modernismo foi a arte pela arte, empenhado na exploração dos métodos e premissas da arte, valorizando na pintura, a cor, a pincelada, os volumes e, na escultura a plasticidade, o toque e o espaço, a obra de Warhol era o seu oposto. Aqui acabava a ideia de que a arte era, pela sua própria essência, algo de diferente e discernivel da não-arte.

Se o modernismo se libertara da representação, a arte contemporânea libertou-se de tudo o resto: a beleza é explicitamente negada por muitos dos movimentos da pós-arte; dissolve-se a distinção entre objecto e criação, entre artista e observador, entre público e privado, como quando Gilbert & George se declaram obras de arte vivas; extingue-se, enfim, a diferença entre arte e vida. Ao artista desconfiado de um mundo que vende as suas obras, ao artista portador de uma pureza, de uma verdade única e última, a segunda metade do século XX contrapõe artistas que reproduzem o próprio comércio, como Warhol, nas embalagens, mas também nas suas polaroids, repetidas, de Marilyn ou de Elvis, icones de ícones, outros que esvaziam o significado da sua interioridade, como Koons quando transforma o seu namoro numa porcelana kitsch, cheia de dourados e borboletas; outros, ainda, fazem obras “invisíveis”, intervenções em locais isolados, negando a própria relação com o mundo.

A arte acabou, e porque acabou, está em todo o lado: land art, body art, performance, a arte nos gestos, nos processos, no lixo. Ou não está em lado nenhum, senão nos próprios conceitos: em 1961, Piero Manzoni vende o seu próprio hálito dentro de balões e assina os corpos dos espectadores declarando-os obras de arte vivas; em 1972, Fred Forrest compra um espaço em branco no Le Monde e convida os leitores a encherem-no com as suas próprias obras de arte. É desta arte contraditória, muitas vezes efémera, outras tantas vezes permanente ou em constante tensão com a sua própria existência, de que este volume se ocupa, bem como da sua, muitas vezes dificil, definição e interpretação.

Século XX: Das Vanguardas à Arte Global de Cinzia Caiazzo. Público Comunicação Social. Porto, 2006, 383 págs. Mole.

Descrição

A arte acaba aqui. Segundo o filósofo e crítico de arte Arthur Danto, o modernismo, bem como a própria história da arte, foram extintos no momento em que Andy Warhol criou a instalação de caixas de esfregões Brillo. As cópias fiéis, em serigrafia sobre madeira, de embalagens comerciais, que Warhol repetiria nas latas de sopa de tomate Campbell, são, na prática, indistinguiveis das próprias embalagens. Se o modernismo foi a arte pela arte, empenhado na exploração dos métodos e premissas da arte, valorizando na pintura, a cor, a pincelada, os volumes e, na escultura a plasticidade, o toque e o espaço, a obra de Warhol era o seu oposto. Aqui acabava a ideia de que a arte era, pela sua própria essência, algo de diferente e discernivel da não-arte.

Se o modernismo se libertara da representação, a arte contemporânea libertou-se de tudo o resto: a beleza é explicitamente negada por muitos dos movimentos da pós-arte; dissolve-se a distinção entre objecto e criação, entre artista e observador, entre público e privado, como quando Gilbert & George se declaram obras de arte vivas; extingue-se, enfim, a diferença entre arte e vida. Ao artista desconfiado de um mundo que vende as suas obras, ao artista portador de uma pureza, de uma verdade única e última, a segunda metade do século XX contrapõe artistas que reproduzem o próprio comércio, como Warhol, nas embalagens, mas também nas suas polaroids, repetidas, de Marilyn ou de Elvis, icones de ícones, outros que esvaziam o significado da sua interioridade, como Koons quando transforma o seu namoro numa porcelana kitsch, cheia de dourados e borboletas; outros, ainda, fazem obras “invisíveis”, intervenções em locais isolados, negando a própria relação com o mundo.

A arte acabou, e porque acabou, está em todo o lado: land art, body art, performance, a arte nos gestos, nos processos, no lixo. Ou não está em lado nenhum, senão nos próprios conceitos: em 1961, Piero Manzoni vende o seu próprio hálito dentro de balões e assina os corpos dos espectadores declarando-os obras de arte vivas; em 1972, Fred Forrest compra um espaço em branco no Le Monde e convida os leitores a encherem-no com as suas próprias obras de arte. É desta arte contraditória, muitas vezes efémera, outras tantas vezes permanente ou em constante tensão com a sua própria existência, de que este volume se ocupa, bem como da sua, muitas vezes dificil, definição e interpretação.

Informação adicional

Peso 1650 g

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