“Conceda-se que lográmos reunir em fruste esboço da história de um mito os dados fundamentais do problema cuja compreensão histórica temos em mira. Ora, qualquer que seja o nível da investigação a que se proceda, para compreender, em história, torna-se necessário equacionar os dados cerzidos, ou seja, é preciso integrá-los na trama tão complexa e esquiva duma sociedade em devir a ritmos próprios. E perscrutar aí, nessa poalha de morte que é o tempo volvido, as agruras e os sonhos, a ascensão e a queda dos que nos precederam, dos que continuamos, desses que são e não são nossos antepassados.
Com efeito, atemo-nos à suposição de que o sebastianismo só se nos tornará mais transparente na medida em que o integremos no seu contexto histórico geral – a estrutura económico-social portuguesa, apreensível a partir da segunda metade do século XVI até aos princípios do século XIX. Busquemos, pois, explicitar os contornos, apenas os contornos de tal nebulosa multissecular.”