O DRAMA português durou largos anos; dois de transigências e alucinações, sessenta de cativeiro, vinte e oito de guerra. Gerara tanto sofrimento a loucura de um rei que desejara manejar em terras de África o montante dos avós, desequilibrado batalhador subjugado pela idéia fixa de con- quistar glórias, embora jogando a coroa e o País.

A sombra medrosa de um soberano valetudinário não chegava a aparecer sequer como fantasma digno de legenda. O Cardial sumiu-se na mortalha de púrpura e na opa roçagante da realeza, deixando Portugal como um cavaleiro ferido à beira de um charco cujos miasmas o empeço- nhavam, enquanto o inimigo, em som de guerra inútil, o vexava, alge- mando-o. Empobrecera esgotando-se nos resgates, e quando um povo cai na miséria perde a digni- dade desde que os chefes o almoedem.