Gaveta de Nuvens

Após uma decisiva prova de marginalidade como cônsul, entreguei-me ao jornalismo ou, com mais exatidão, a colaborar em jornais e revistas (com três ou quatro artigos por semana), onde aprendi a alinhar prosas com tanta facilidade de caneta a deslizar no papel que, a certa altura, quando reparei nessa virtude de ofício, desmaiei de terror. E tratei logo de praticar com afinco a ginástica da Dificuldade. Isto é:
impedir que as palavras corressem em forma de fonte óbvia, não me importar de perder tempo, cinco, dez, vinte minutos para desencantar o adjetivo justo, substituir lugares-comuns já muito coçados por novos lugares-comuns, semear obstáculos de propósito, antes de principiar a escrever. Como, por exemplo, dizer de mim para mim: hoje durante seis linguados não empregarei uma única vez os verbos ser, ter, haver, fazer, etc.

Gaveta de Nuvens de José Gomes Ferreira

Após uma decisiva prova de marginalidade como cônsul, entreguei-me ao jornalismo ou, com mais exatidão, a colaborar em jornais e revistas (com três ou quatro artigos por semana), onde aprendi a alinhar prosas com tanta facilidade de caneta a deslizar no papel que, a certa altura, quando reparei nessa virtude de ofício, desmaiei de terror. E tratei logo de praticar com afinco a ginástica da Dificuldade. Isto é:
impedir que as palavras corressem em forma de fonte óbvia, não me importar de perder tempo, cinco, dez, vinte minutos para desencantar o adjetivo justo, substituir lugares-comuns já muito coçados por novos lugares-comuns, semear obstáculos de propósito, antes de principiar a escrever. Como, por exemplo, dizer de mim para mim: hoje durante seis linguados não empregarei uma única vez os verbos ser, ter, haver, fazer, etc.

15,00 

informação do livro

Título: Gaveta de Nuvens
Autor: José Gomes Ferreira
Edição: Diabil
Ano: 1975
Páginas: 238
Encadernação: Mole
Capa: Dorindo Carvalho

1ª Edição. Assinatura de posse.

José Gomes Ferreira (1900-1985). Escritor com uma obra vasta, desmultiplicada por variados géneros, explorando as relações entre tradição e modernidade.
Na sua obra expõe os modos de construção textual, dando conta de uma forma literariamente interessante da evolução do seu processo criativo; é neste contexto que, já nos anos 60, Gomes Ferreira vem a defender a concepção do poeta militante, elegendo como objecto da militância a escrita e a aprendizagem pessoal e literária. As obras do autor oferecem ainda componentes oníricas ou de retrato de época, sempre assentes numa atitude irónica e hiper-reflexiva.  Da sua bibliografia destacam-se as obras: Poesia (1948-76); As Aventuras de João Sem Medo (1963); Poeta Militante (1967) ou Sabor das Trevas (1976).


Após uma decisiva prova de marginalidade como cônsul, entreguei-me ao jornalismo ou, com mais exatidão, a colaborar em jornais e revistas (com três ou quatro artigos por semana), onde aprendi a alinhar prosas com tanta facilidade de caneta a deslizar no papel que, a certa altura, quando reparei nessa virtude de ofício, desmaiei de terror. E tratei logo de praticar com afinco a ginástica da Dificuldade. Isto é:
impedir que as palavras corressem em forma de fonte óbvia, não me importar de perder tempo, cinco, dez, vinte minutos para desencantar o adjetivo justo, substituir lugares-comuns já muito coçados por novos lugares-comuns, semear obstáculos de propósito, antes de principiar a escrever. Como, por exemplo, dizer de mim para mim: hoje durante seis linguados não empregarei uma única vez os verbos ser, ter, haver, fazer, etc.

Peso 245 g

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