Gaveta de Nuvens de José Gomes Ferreira. Diabil. Lisboa, 1975, 238 págs. Mole.
Gaveta de Nuvens
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Após uma decisiva prova de marginalidade como cônsul, entreguei-me ao jornalismo ou, com mais exatidão, a colaborar em jornais e revistas (com três ou quatro artigos por semana), onde aprendi a alinhar prosas com tanta facilidade de caneta a deslizar no papel que, a certa altura, quando reparei nessa virtude de ofício, desmaiei de terror. E tratei logo de praticar com afinco a ginástica da Dificuldade. Isto é:
impedir que as palavras corressem em forma de fonte óbvia, não me importar de perder tempo, cinco, dez, vinte minutos para desencantar o adjetivo justo, substituir lugares-comuns já muito coçados por novos lugares-comuns, semear obstáculos de propósito, antes de principiar a escrever. Como, por exemplo, dizer de mim para mim: hoje durante seis linguados não empregarei uma única vez os verbos ser, ter, haver, fazer, etc.
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informação do livro
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1ª Edição.
José Gomes Ferreira (1900-1985). Escritor com uma obra vasta, desmultiplicada por variados géneros, explorando as relações entre tradição e modernidade.
Na sua obra expõe os modos de construção textual, dando conta de uma forma literariamente interessante da evolução do seu processo criativo; é neste contexto que, já nos anos 60, Gomes Ferreira vem a defender a concepção do poeta militante, elegendo como objecto da militância a escrita e a aprendizagem pessoal e literária. As obras do autor oferecem ainda componentes oníricas ou de retrato de época, sempre assentes numa atitude irónica e hiper-reflexiva. Da sua bibliografia destacam-se as obras: Poesia (1948-76); As Aventuras de João Sem Medo (1963); Poeta Militante (1967) ou Sabor das Trevas (1976).
Após uma decisiva prova de marginalidade como cônsul, entreguei-me ao jornalismo ou, com mais exatidão, a colaborar em jornais e revistas (com três ou quatro artigos por semana), onde aprendi a alinhar prosas com tanta facilidade de caneta a deslizar no papel que, a certa altura, quando reparei nessa virtude de ofício, desmaiei de terror. E tratei logo de praticar com afinco a ginástica da Dificuldade. Isto é:
impedir que as palavras corressem em forma de fonte óbvia, não me importar de perder tempo, cinco, dez, vinte minutos para desencantar o adjetivo justo, substituir lugares-comuns já muito coçados por novos lugares-comuns, semear obstáculos de propósito, antes de principiar a escrever. Como, por exemplo, dizer de mim para mim: hoje durante seis linguados não empregarei uma única vez os verbos ser, ter, haver, fazer, etc.
Peso | 245 g |
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