Já no início do século XVI, Thomas Moore falava da arte como algo de transcendente, um paraíso ao qual todas as almas humanas aspiram: “Os muitos grandes jardins deste mundo, da literatura e da poesia, da religião e da arquitectura, todos tornam a questão tão clara quanto possível: A alma não pode vingar na ausência de um jardim. Se não desejais o paraíso, não sois humanos.”

Quatro séculos passados, Magritte descrevia assim a sua vocação: “A arte evoca o mistério sem o qual o mundo não existiria.” Ao folhear este segundo volume do dicionário de artistas, confrontamo-nos com uma espantosa diversidade de nacionalidades, percursos, linguas e actividades dos homens e mulheres que hoje contamos entre os criadores da arte. Perante a arte, dizia Goethe, “desvanecem-se as barreiras da nacionalidade.” O património artístico de todo um mundo, do Hércules de Lisipo às obras de Siza Vieira, parece confirmar esta ideia. Entre os artistas cujas biografias e obras são aqui brevemente apresentadas, muitos haverá, sobretudo modernos e contemporâneos, que se entendem como participantes numa arte entendida como global, como valor universal e único.

No entanto, basta observar a lista de artistas conhecidos apenas como mestres, para termos uma ideia do longo anonimato dos que eram então artesãos, operários e serviçais. Não se concebendo como artistas, não era a arte que serviam mas o poder, fosse ele o faraó, o rei, ou a igreja. A própria diversidade geográfica é uma relativa novidade, que esconde os longos séculos em que a Arte foi europeia, masculina, e branca, fundada e refundada sobre a ideia da Antiguidade clássica.

Este volume é um valioso instrumento de consulta, ao serviço de uma noção lata e moderna de arte, e que nos mostra também, ao fornecer o contexto geográfico e histórico da vida destes homens e mulheres, essas outras ideias sobre o valor, o oficio, e a produção da arte ao longo dos tempos.