Sempre, em todas as culturas de que guardamos memória, a mulher foi pressentida como um mistério maior, se não mesmo porventura como o maior de todos os mistérios. E sempre a interrogação e o culto que lhe votaram e o olhar que lhe dirigiram acabaram por vê-la sob as formas extremas e contraditórias do equilíbrio que protege e do abismo em que tudo se consome, da máxima cordura e da mais apaixonada violência, da vida renovada e oferecida até ao sacrifício e da foice por que a morte se anuncia.
Nos livros de João de Melo, este tema do inquietante mistério feminino, associado ao da guerra e ao da solidão das ilhas, que lhe são aliás próximos, desempenhou desde sempre um papel primordial. O que se tem traduzido em textos que atribuem uma decisiva importância aos sentidos e à notação das suas modulações, numa transbordante sensualidade da palavra que é o mais característico timbre de toda a sua obra.